quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Livros de morte

Livros de morte, abri alguns
Evitei ler deles o final
Preguei a vida, era algo trivial
Rasguei aquelas cartas, perdi-as pelos caminhos

Voltei. Sim, voltei para mim. Sou três.
Aqui: ar.
Era assim que havia deixado da outra vez.
Lá: matéria, fluídos e pele a escamar.

Não voltei à toa. Há motivo.
Assim como, se precisar novamente partir, haverá razões.
Não saberá ao certo, não serei explicativo.
Apenas digo: há razões.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

fissura

numa noite dessas de inverno
poucas vezes me levantei da cama
mas quando saí, postei-me duas vezes atrás da porta
nas demais horas, rondei a mesa de jantar

também, agora lembro, deitei no chão do banheiro, no escuro
gritei, pois nunca houve a quem acordar

dediquei dezessete minutos a mim mesmo
uma homenagem silenciosa, espontaneamente triste
cheia de reticências que torturam qualquer alma
numa próxima vez, grito mais alto

mas é que não haverá a quem acordar
a quem recorrer
só está em mim o prazer que posso receber
numa noite dessas, ora!, me acabo de prazer!

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

si

não há ninguém mais triste do que aquele que busca uma definição de si mesmo
mas se ilude ao acreditar que um dia poderá saber da totalidade que é sua e ao mesmo tempo lhe escapa
na tranquilidade provisória, suspira por uma aprovação - que virá de outro, ou outros

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

terceira descida

eu desci do topo onde me coloquei
eu fiz e faria novamente
esses sentimentos miseráveis me tomaram
e eu sei que um dia volto para lá
todos os olhares de tristeza me tem
mas eu estou conquistando meu lugar
haja o que houver
eu farei o que for

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

terça

A desilusão está aí para ser usada.
Mas eu a quero mais é longe. Para trocá-la de vez por amores aquecidos.
É, pois é. Dói como o golpe de uma espada.
E, como uma espada, apesar de rara, de vez em quando ainda faz uns feridos.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Risíveis

Não se preocupe. Devo admitir que até aguardo ansiosamente pelo silêncio. É também violência, que não fere e, portanto, é ridícula.
Não poupe esforços – bata. Até o momento, somos apenas nós dois. Os amores nunca se aprofundam e, verdade da qual não faço parte (só aparento fazer), vivem numa ilusão, esta sim profunda.

Houve quem esbravejasse.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Não mais que brincar com as palavras

Aperto de perto sem medo você contra meu peito / não nego mas entrego num beijo meu jeito / é assim sem mais que te quero / te amo só mais um segundo / um absurdo certo e profundo.

Meu peito perto sem medo aperto de você / Nego meu jeito num beijo mas entrego / assim quero é sem mais que te / amo só um segundo mais / e um certo profundo absurdo.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Frágil

Fragilidade.
Vivida e irreversível.
Faz da pior das destruições
Algo previsível.
É a estrutura fraca.
Transparente e sem graça
Que se desfaz em mil decisões
Sem que nada por ela se faça.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Olhos

Olhos
De canto, que me vejam.
Qual o espanto.
Sem razão diante do corpo.
É só mais um corpo.

terça-feira, 20 de julho de 2010

jogo

Esqueça o tempo que pass-
Ou vai ficar achan-
Do meu passo sou eu que se-
Impróprio ou esquisi-
Tomando distânci-
A vida é assim.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Tá pra nascer

quem convence, sem mostrar os dentes?

sábado, 19 de junho de 2010

Com amor

Você pode segurar minha mão, quando quiser.
Não há arrependimento, apenas o sentimento de que algo nasceu bem aqui.
Numa das janelas que nos fazem ver o mundo, deixei meu corpo. Mas não a esperança. Agora.
Não fui eu que fingi um sorriso?
Esperam que os olhos fechados ainda possam ver algo apesar de tanta luz?
Aqui estamos com medo de virar a página.
E saber quem será o vencedor.

Apenas esqueci o que vem de cima.
A dor nunca deixará eles morrerem. De novo.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Questão

Todos falam da questão
A questão do pré-sal...
A questão da educação...
A questão da segurança pública...
Questão, invariavelmente, vem na frente de coisa importante.
O que deve ser discutido vem acompanhado da Questão.
A questão da reforma agrária é coisa séria. A questão do Pato Donald não ser um pato, mas um ganso, não é questão.

A questão não é democrática. Proponho aqui uma questão: a democratização da questão!

segunda-feira, 12 de abril de 2010

questão

Um monte de livros de Freud, espalhados sobre e sob a mesa. Muito café, muitas horas. Sem, nem um pouco de entendimento. Não virá a luz. Pergunto:

_ Posso dar de ombros a toda essa merda?